Wake Up

Assisti ao novo filme do Superman na pré-estreia. Quem me conhece sabe que acompanho o Homem de Aço desde que aprendi a segurar uma revista em quadrinhos com as duas mãos. Mas prometo não dar spoiler, nem fazer crítica, para não estragar a experiência de quem ainda pretende assistir. Quero apenas dizer que adorei; não apenas pela oportunidade de rever meu herói da infância, mas porque o filme, desta vez, trouxe de volta algo que andava meio esquecido nas últimas versões do azulão: a humanidade por trás da força. A escolha de permanecer vulnerável, mesmo quando se tem o poder de não ser. Porque, no fim das contas, são as nossas escolhas que nos definem e a diferença que podemos ser no mundo.
Nestes tempos de conflito, divisão e incertezas institucionalizadas, é fácil esquecer disso. Já falei isso em um post anterior, mas o filme me trouxe novamente o sentimento de que a injustiça parece estar em todas as partes. Pode até não ser monstros gigantes ou vilões com superpoderes, mas a sensação de impotência é real e constante. E junto com ela, vem algo ainda mais corrosivo: o medo. Medo de ser atacado, de ser enganado, de ser deixado pra trás, de ser destruído. E esse medo, quando não explode em violência física, se disfarça de formas mais sutis: ironia, sarcasmo, distância emocional ou mesmo indiferença. E quando vemos, já não lembramos de que lado estamos. Ou se ainda existe um lado. Reproduzimos padrões, levantamos escudos, e esquecemos o que viemos fazer aqui. Seguimos em frente; o mundo à nossa volta desmorona, mas outro que cuide disso.
No filme, o diretor James Gunn desenhou esse cenário magistralmente, de um jeito sutil, quase imperceptível. Não é spoiler o que vou falar, afinal está no trailer, mas, enquanto os heróis enfrentam monstros descomunais no centro da cidade, com prédios sendo destruídos e carros arremessados, muita gente continua andando, como se fosse apenas mais uma terça-feira qualquer. Alguns nem levantam os olhos. Outros se afastam mecanicamente, com a urgência de quem tenta chegar a tempo no trabalho. Ninguém realmente repara no que está desmoronando. A destruição parece ter virado plano de fundo ou só um ruído misturado aos sons da grande metrópole.
Por isso, talvez, símbolos como o Superman ainda façam sentido. Não como fetiches escapistas que nos afastam do real, mas como catalisadores silenciosos. Arquétipos que, como Jung tão bem descreveu, tocam camadas da alma que a razão sozinha jamais alcançaria. Superman, para mim, nunca foi sobre força, mas sobre escolha. E, neste novo filme, reencontrei essa lembrança: a escolha de não me render ao medo. A escolha de continuar acreditando quando o mundo já não parece digno da crença. A escolha de, mesmo sendo invulnerável, permanecer sensível ao que está ao meu redor.
Talvez estejamos atravessando um desses momentos limiar, em que a vida parece nos interpelar com perguntas mais urgentes. Não mais “o que você quer?”, mas “o que você vai fazer com isso?”. É como um convite para tornar concreto o que se compreendeu por dentro. Para sair do devaneio espiritual e abraçar o gesto simples, porém transformador. Como amar em silêncio, quando a voz insiste em censurar. Como escutar, quando a vontade maior é gritar de volta. Como manter viva a ternura, quando o mundo insiste, a todo custo, em nos embrutecer.
E foram justamente esses pensamentos e inquietude, que me levaram a escrever, um tempo atrás, uma música chamada “Wake Up”, lançada pelo meu projeto musical Healight. É tempo de emergir deste sono profundo, questionar sem medo, explorar o desconhecido e, finalmente, abraçar o propósito que nos espera. A consciência de que nossas escolhas e ações não são apenas para nosso benefício pessoal, mas sim para contribuir para o bem-estar coletivo, essa é a verdadeira força, o verdadeiro despertar.
A música está em todas as plataformas de streaming. Aqui tem o link para o Spotify:
A força do Superman, no fundo, nunca foi exatamente sobre voo ou outras capacidades sobre-humanas. Ele é super porque decide usar tudo o que é para proteger o que ama. E essa lição, no fim das contas, é o que ainda pode nos salvar.
Porque talvez o mundo precise, agora mais do que nunca, de gente comum disposta a fazer escolhas extraordinárias. Mesmo que ninguém veja. Mesmo que pareça pouco ou mesmo que doa. Gente que ainda acredita, contra todas as evidências, que é possível.